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domingo, julho 31, 2011

Cultura e Direitos de Autor

Ainda não consegui encontrar uma definição para cultura, que me satisfaça. Por vezes, associa-se cultura a saber, e este é uma marca identitária que evolui à medida que crescemos, e como jamais existirão duas histórias iguais, nem igualdades de oportunidade, Miguel Angelo e Einstein são dois saberes, ou sabores, de um comparável patamar de conhecimento, com tão grande sapiência como uma Mulher de Mértola que toda a sua vida trabalhou num tear e compôs padrões para mantas de qualidade inquestionável. Portanto, se definir Cultura já é por si difícil, mais complicado se tornará espalhar por todos os interiores do nosso País ricos em atrasos estruturais, o balanceamento do seu valôr na utopia de um máximo divisor comum que a torne menos abstracta, ainda por cima num tempo em que a Cultura deixou de ter Ministério, o que instintivamente a atira para último lugar das prioridades colectivas, não por razões de estratégia ou necessidade economicistas, mas sim em consequência da sua conveniente apropriação para o exercício do poder elitista. Pelo meio dos conflitos de interesse que dominam a luta pela redistribuição da riqueza, uns quantos disputam a oferta Turística de mais ou menos Qualidade, sem aceitarem a chamada visão integrada, a qual entende deverem-se distribuir o mais possível ao longo dos territórios com Logotipo, o maior número possível de polos de atracção para a exposição das suas valências culturais. Um território que pelas suas potencialidades se pretenda hoje promover, é porque o seu coração demonstra conservar no seu interior o resultado de todas as aculturações pré-históricas e históricas aportadas pelas civilizações, e quiçá também barbáries, que as ocuparam, e deixando para trás muitos contributos para o seu desenvolvimento, querem agora o retorno da sua criatividade através da sua publicitação, e esta pode fazer-se de muitas formas.
As modernas tecnologias, tão acarinhadas mas que vão destruindo milhões de empregos, colocam ao alcance de uma dedada (click) o acesso ao milagroso termo ligação (link) que pode destapar toda a informação residente na rede (web), maioritáriamente desprotegida. Embora a rede, e consequentemente os seus predadores, ainda não tenham tido tempo de se apropriar de toda a obra Humana secularmente impressa, ainda estão a salvo muitos direitos de autor que importa saber proteger da moderna pirataria semi analfabeta a qual, como desconhece entre outras coisas decisivas a existência da tabuada, também ignora o que é a ética. E entre a salvaguarda desses direitos, está a propriedade intelectual dos artistas da préhistória que se expressaram, em suportes naturais sujeitos a agressões climatéricas, geológicas e humanas, ou em suportes materiais mais duradoros mas mais frágeis ainda, e cuja descêndência Universal nunca conhecerá os benefícios pecuniários colectivos dos direitos da propriedade intelectual.

Quem queira aprofundar o enquadramento das origens da Taça retratada nesta imagem, que é uma réplica de uma criação do Século I ambas produzidas em Itália no mesmo local – Arezzo, está desafiado para uma visita ao Palácio da Ajuda onde reside a Bibioteca do ex Instituto Português de Arqueologia (IPA), e por exemplo ganhar algum tempo de vida com o saber de Francoise Mayet. Arezzo é mesmo um exemplo da Cultura que me toca, um Território, com milénios de história onde se partilham as emoções do recheio do Museu Arqueológico com os Frescos medievais de Frei Angélico nas suas Igrejas e ainda está ansioso por oferecer como recordação uma das notáveis réplicas da melhor palamenta cerâmica usada pelas elites Romanas, e que ali tiveram a sua origem.

Por mim, gostava agora de saber como terão reagido os artífices criadores da cerâmica Aretina, a um primórdio da “Globalização”, o nascimento de importantes centros de produção da Tierra Sigillata na Gália, na Bética e na orla mediterrânea do Norte de África que lhes copiou as ideias e o saber fazer, e com a destruição do monopólio das exportações Aretinas para o restante Império, conduziu à sua falência e ao seu ocaso.

sábado, julho 30, 2011

Imagens de rua


A estética alietória de um objecto ou a crua verdade de uma imagem?

sexta-feira, julho 29, 2011

Do Fundo dos Fundos

A minha neta M, na inocência dos seus dois anos, rabiscou alegremente com lápis de côr esta boneca de papel que logo veio oferecer ao Avô, como recompensa das horas que tem agora passado nas férias ao meu colo, vibrando com as animações didáticas do Poisson Rouge no ecrã do meu computador; fê-lo sem compreender nada do que se passa à nossa volta e que lhe quer descolorir o futuro.

Neste momento da História, em que se fazem tantos balanços das razões porque Portugal não beneficiou convenientemente dos Fundos Comunitários para se desenvolver, e que todos os dias ouvimos os mesmos presunçosos Professores Doutoures dissertar sobre as mais variadas soluções milagrosas, todas contraditórias, para despertar o tecido económico produtivo, quero recordar factos que vivi pessoalmente e que mostram como a perfídia e o cinismo são os verdadeiros protagonistas destas Histórias Infantis do nosso actual quotidiano, cuja dimensão é possível extrapolar a partir daqui através de uma reflexão sobre dois episódios, dos quais cada um pode tirar as suas próprias conclusões. Trabalhei numa Grande Empresa durante cerca de trinta anos, que chegou a ter cerca de seis mil Empregados, e no tempo em que Cavaco Silva foi Ministro e depois PM, a UE entregou como se sabe ao Governo para este gerir, centenas e centenas de milhões de contos para formação profissional, tendo-se montado verdadeiras teias de sofisticados esquemas para tirar partido desses fundos, presumida e exclusivamente destinados a ajudar a elevar as qualificações dos trabalhadores Portugueses e portanto aumentar a produtividade do País, não interessando já trazer a lume as gigantescas fraudes tipo BPN envolvidas nos vários Quadros de Apoio, pois a “Justiça” encarregou-se de cuidar da prescrição desses crimes. Apenas posso contar a parte do que vivi, fazendo notar que não tive acesso aos montantes das verbas que a Empresa onde trabalhei recebeu para formação profissional, pois fui escolhido para durante alguns anos fazer parte do conjunto de Agentes Formadores que visavam alargar a todos os Colaboradores uma visão global e detalhada de todas as vertentes da sua actividade. Comecei por frequentar cursos para Formação avançada de Monitores, para depois poder desenhar e aplicar metodologias que tornassem atractiva e consequente a transmissão dos meus próprios conhecimentos, e durante todos esses anos tive que repartir essas accões com as minhas responsabilidades profissionais correntes, sem que tivesse recebido qualquer compensação monetária para além das ajudas de custo quando me deslocava, de comboio, a Coimbra ou ao Porto. Os Fundos Europeus custeavam todas as despesas, que incluiam mesmo os salários de todos os Formandos e Formadores durante os dias em que estavam envolvidos nas acções de formação, que duravam em média uma semana, e que foi sucessivamente abrangendo toda a pirâmide hierárquica da Empresa, o que se tornou num duplo e apetitoso benefício para os seus balanços, aproveitado até ao seu limite. Importa dizer que considero globalmente positivo os resultados que conseguimos na Empresa, pois existiam avaliações dos conhecimentos adquiridos nas acções de formação, abrangendo formandos e formadores, salvaguardando-se os resultados da avaliação profissional anual para efeitos de progressão na carreira profissional, que existia desde 1977 numa metodologia negociada entre a Administração da Empresa e a Comissão de Trabalhadores, e com respeito pela curva de Gauss. No País, alguns sectores de actividade houve em que rápidamente se produziram excelentes resultados no desenvolvimento empresarial, mas os constrangimentos internos da competividade pela competitividade impediram o alargar de vistas para o mercado externo. Nos anos 90 do Século XX o Sistema Bancário Português estava a par do pequeno pelotão da vanguarda tecnológica  Europeia, e mesmo à frente nalguns sectores do negócio, mas como o crescimento estava como hoje continua a estar na boca dos Teóricos como uma obrigação, e como solução milagrosa para poderem “criar valor”, o crescimento do negócio fazia-se pela disputa do aumento da taxa de bancarização, pelo que a “espionagem” aos produtos dos concorrentes era muito mais premente do que a venda de saber (know how) aos concorrentes e para o Estrangeiro. É claro que o Mundo deu muitas voltas, e pelos vistos nem todos os que tinham essa visão estão agora de boa saúde financeira, mas por outras razões, como é o caso de uma Instituição Financeira Espanhola com sede em Madrid, que tive a oportunidade de visitar para apreciar e emitir parecer sobre a qualidade de um produto (software) para análise de riscos de crédito, e que não “passou” nos testes de stress recentemente realizados pelo BCE. Pelo meio de tudo isto, eu próprio também recebi formação, e numa delas bastante abrangente realizada no Instituto de Formação Bancária, tendo como tema principal “Direito Bancário”, houve um dia dedicado a aprender como se fazia o Orçamento do Estado, sendo Monitor o Acessor do Dr. Cavaco Silva que no Ministério das Finanças era responsável por essa matéria, e de cujo nome não me “lembro”. Estávamos no tempo do Escudo, e da capacidade dos Estados intervirem na política de estabelecimento da paridade das suas moedas relativamente às outras, e depois de uma intervenção inicial sobre a influência de cada variável nos resultados das contas do País, estive o resto do dia a aprender quais as opções que permitiriam atingir o resultado pretendido, simulando-se passo a passo as consequências de cada opção sobre todas as restantes variáveis, até que quase ao findar da tarde, o “Orçamento” em base real estava concluído, coerente e satisfatóriamente explicado. Refira-se que tinham sido simuladas todas consequências para o resultado final fixado pelo Governo, advindas de variáveis como as taxas de juro directoras fixadas então pelo Banco de Portugal, a inflação, os custos do petróleo, a Relação do Escudo com o Dólar, os aumentos salariais, etc. Eis senão quando, um colega meu, aliás com um feitiosinho especial, Licenciado em economia, que tinha deixado o Douto Acessor do Governo preencher um enorme quadro, então ainda não interactivo..., com toda aquela brilhante fórmula, lhe chama a atenção para que havia um erro numa das colunas, pois ele havia efectuado uma soma de milhões onde devia ter feito uma subtracção! O Homem, ficou da côr do giz, sentou-se a olhar para o quadro, do qual já todos tínhamos em nosso poder um cópia manuscrita em papel A4, e ao fim de algum tempo, pediu desculpa, recolheu apressado “as provas do engano”, disse que não tinha condições para corrigir o quadro de imediato , mas que ia refazer as contas durante a noite, e ia falar com a Direcção do Instituto para que no dia seguinte fosse possível encontrar um espaço no programa para ele nos apresentar e explicar a versão correcta.  Todos ficámos a saber, e vale a pena relembrar agora, o que “era” na prática a sabedoria Macroeconómica!

quinta-feira, julho 28, 2011

Imagens de rua


O "peão" vermelho, vigia o Big Ben com a firmeza das sentinelas Reais.

quarta-feira, julho 27, 2011

Imagens de rua


Quando um gesto parece substituir a barreira da língua, mas deixou a dúvida do que lhes terá agradado na atracção que aquele conjunto de figuras fez despertar na minha objectiva, e que esta também não sabe explicar!

terça-feira, julho 26, 2011

A intimidade com a Arqueologia

Faz quase meio século que o meu Amigo AMS me despertou para, os sonhos ou a utopia, da salvaguarda da parte do nosso Património que foi ficando soterrado pelas alterações que os Povos e a natureza foram provocando, principlamente nos territórios da Margem Esquerda do Rio Guadiana. Das caminhadas que fizemos juntos, à chuva e ao sol, por montes e vales, saltando muros para fugir de vacas bravas em Stº Aleixo da Restauração até ao Castelo das Guerras e outras aventuras, não tenho para mostrar a quantidade e a qualidade das imagens que gostaria, mas sempre vou poder ir partilhando e legendando muitas ilustrações. Nesse tempo, a Museologia não tinha a expressão que tem hoje, em dois sentidos embora para mim contraditórios; os Museus eram poucos e a exposição era abundante mas pouco amigável, agora há Museus por todo o lado, técnicamente perfeitos, que não mostram quase nada, do que há, devia e podia ser exposto. É verdade que do ponto de vista da substância do conhecimento científico abundam hoje vários suportes que permitem aceder ao conhecimento das descobertas dos últimos vinte anos, em particular na Arqueologia, depois das grandes Obras Públicas terem sido legalmente obrigadas a efectuar estudos de impacte, emergindo naturalmente as publicações sobre o território abrangido pelas albufeiras do Alqueva e de Foz Côa.

Há cerca de dois meses, quando manifestei a minha indisposição pela demora na conclusão do novo Museu de Tavira, estava longe de poder adivinhar a gravidade do estado de saúde da Arqueóloga Maria Maia, que há-de ter uma comovida homenagem no dia da sua abertura, espaço museológico construído neste mesmo local, agora irreconhecível, e onde em 2003 escavámos juntos, enfrentando os riscos de um possível desabamento de terras. 
Guardo em sua memória, para o dia da abertura do Museu que merece chamar-se de Maria Maia, a publicação da imagem do mais importante achado daquela campanha, que não tem paralelo em todo o Mundo.

segunda-feira, julho 25, 2011


Acabo de saber do desaparecimento de Maria Garcia Pereira Maia.
Conheci-a, bem como ao Marido Manuel Maia, nos anos 80 num Congresso de Arqueologia do Baixo Alentejo realizado em Castro Verde. Foram anfitriões dos participantes no Congresso na visita ao complexo Arqueológico que desbravaram nos terrenos circundantes às Minas de Neves Corvo.
Já neste Século, o meu Amigo AMS reapresentou-mos em Tavira por debaixo daquilo que é hoje o átrio do Palácio da Galeria, onde estavam a trabalhar em planos das ocupações Turdetanas na Cidade, de cerca do Sec.V AC.
A Arqueologia, perdeu uma das mais ricas fontes de saber sobre, entre tantas outras muito importantes, as ocupações Turdetana e Islâmica em Tavira.
A Maria, já não vai poder assistir em Tavira à inauguração dos Museus dos seus sonhos, construídos à custa de muito do seu trabalho e do seu saber, o que vai ser uma cruel injustiça, mas a sua presença pairará ali para sempre, pelo menos através das legendas das exposições.
Julgo não ter nenhuma fotografia sua, por isso, publico desde já em sua homenagem a imagem da capa de um livro que o Casal Maia me ofereceu e que dá a conhecer os resultados de uma escavação que efectuaram em 1994 num depósito votivo de lucernas romanas situado no Concelho de Castro Verde, e a cuja musealização puderam ter o gozo de assistir, e que é um dever visitar na sede daquele Concelho. 

Portugal, como vai?

Estamos a viver há já alguns anos na época aúrea da mistificação, e da insegurança, ameaças sem contornos bem definidos e em permanência manipuladas pelos Orgãos de Intoxicação Social. O recente escândalo Inglês, um sinistro ataque aos direitos da intimidade individual de milhares de cidadãos para obtenção de vantagens político/económicas, estúpidamente abafado em Portugal para tentar tirar relevo ao nosso escândalo com a recente intervenção do SIS, que é por si um caso bem mais grave, pois revela que dois Partidos Políticos, PSD e CDS, podem recorrer aos “serviços” das Polícias para mero interesse Partidário, e acaba por demonstrar afinal a mais infima parte da trama que envolveu as escutas ao ex PM e a outras pessoas por causa da luta pelo domínio de algumas empresas de telecomunicações. Estavam e estão em causa os interesses da Ongoing/Moniz/PSD para domínio da PT que sendo a maior operadora de telecomunicações é onde se efectuam os procedimentos técnicos para a efectivação das escutas, que se tornarão incontroláveis a partir do momento em que o Estado deixe de ser seu accionista. Para que não se diga que se trata de pura imaginação, transcrevo da página três do último Expresso - “Miguel Relvas – que segue a comunicação social à lupa e que tem empresas de clipping (que rastreiam jornais, televisões e blogues) a prestar-lhe serviços no PSD -, ...

Eco dos criadores do Belo


domingo, julho 24, 2011

sábado, julho 23, 2011

Eco dos criadores do Belo



Por vezes, bastava uma capa.

sexta-feira, julho 22, 2011

Eco dos criadores do Belo

A intimidade com as objectivas



O instinto do simbolismo superior, o rumor indeciso, a reflexão lenta, até atingirmos o climax de negação à abstracção .

quinta-feira, julho 21, 2011

Moinhos do Guadiana



Junto da passadeira de um dos moinhos do Guadiana, que prolongavam os paredões dos açudes, as águas do rio que já percorreram kilómetros, com o entupimento das comportas, ficam agora presas e serenas, exalando o perfume dos viveiros dos achigãs.

quarta-feira, julho 20, 2011

A força de um dedo


Como diria um Amigo meu, uma fantástica experiência “tardia”, demonstrou-me hoje expontâneamente que até um objecto flutuante com cerca de 10 Toneladas de Tara, pôde ser movimentado, a partir de um ponto fixo do passadiço de um cais, apenas com a força de um dedo meu, depois de primeiro me ter simplesmente encostado à embarcação aqui retratada para encontrar um melhor enquadramento de um horizonte próximo. Foi a demonstração inesperada e prática das mais velhas imagens que muitos de nós Alfacinhas guardamos acerca dos preparativos para a acostagem dos velhos barcos de passageiros que cruzavam o Tejo a toda a hora, e a que se chamavam cacilheiros por nos levarem principalmente até Cacilhas. A acostagem dos cacilheiros era uma tarefa que requeria muita perícia e a intervenção de marinheiros de bordo que atiravam para o cais, quer da popa quer da proa, grossas cordas de cisal com um grande laço na ponta para serem enfiadas nas enormes amarrações cilindricas em ferro, com uma gola enviesada na parte superior, ao mesmo tempo que do cais eram efectuadas operações de sentido inverso por um operador de cais. Normalmente, três homens tinham força para afastar ou aproximar aquela massa bruta enorme, tal como eu fiz com este barco para a pesca do polvo. Depois, os passageiros esperavam pacientemente, ao som do ranger da corda no metal, e do barulho esforçado do motor, que no cais e a bordo fossem aliviadas e enroladas as cordas, tantas vezes as que fosse necessário, para que o barco ficasse imóvel e tão próximo do cais quanto possível, e já com os motores parados, se estendiam as tábuas por onde se fazia a entrada e a saída dos passageiros, ajudados sempre por um marinheiro, o qual com um pé no cais e outro na tábua ou na embarcação lhes segurava no braço até sentir que haviam ficado com os dois pés perfeitamente assentes e os corpos equilibrados. O barco, esse sempre continuava a balouçar de encontro à amurada do cais esmagando os enormes pneus de borracha que suspendidos protegiam o casco da dureza das esquinas dos pontões de ferro.

Em Santa Luzia, nos barcos que estabelecem a ligação com a praia da Terra Estreita, dois marinheiros sendo um deles o “maquinista” asseguram agora, a partir do próprio barco, todas as diligências de acostagem aos cais, feitas num minuto, 

e para aceder ao barco, passadiços com protecções laterais garantem a segurança e a autonomia do movimento dos passageiros de entrada e saída da embarcação.

terça-feira, julho 19, 2011

Fronteiras


Antes da existência desta Europa Política a que pertencemos, havia uma outra Europa a que não pertencíamos. Até entre Espanha e Portugal, havia uma encorpada fronteira, aparentemente física e comercial, mas que de facto era também uma fronteira política, mau grado a comum matriz Fascista de Franco e de Salazar. De pouco nos valia a cotação forte do Escudo face à Peseta, pois esta valia metade, cinco tostões com se dizia aos Espanhois com sobranceria, já que não só era preciso Passaporte para atravessar a fronteira, como também as vias de comunicação fronteiriça não convidavam a longos percursos, e daí a célebre prática de ir a Badajoz comprar caramelos! Na volta, era proibído trazer quase tudo, todas as malas eram abertas e revistadas com minúcia e com a solenidade das luvas brancas dos funcionários da Direcção Geral das Alfândegas, terminando não raras vezes por pagamento de direitos por dá lá aquela palha, ou por um simples, porque sim! A roupa, era o que mais lhes custava a engolir na revista das bagagens pois a nova vinha sempre sem etiquetas para impedir a prova de origem, o que levava ao aguçar da busca, embora as nossas mulheres sempre fizessem a mala o melhor e mais natural possível, e sempre acabasse de passar algo sem comentários. O baralho de cartas na imagem, a causa primeira destas lembranças, pertencia a uma pessoa da minha família, chegou-me às mãos recentemente, foi fabricado na Bélgica, e destinava-se a presentear os Clientes deste Banco na sua Rede de Agências existente em França, onde se disputava árduamente a recolha de divisas logo transferidas para Portugal e fundamentais para o equilíbrio da Balança de Pagamentos do nosso País. Embora de fraca qualidade, estas 52 cartas de jogar eram muitíssimo superiores àquelas que se podiam comprar em Portugal a um preço aceitável e que baralhadas uma dúzia de vezes tornavam-se insuportáveis, e embora o jogo constasse do Catálogo dos vícios do Regime havia à venda baralhos de alta qualidade, mas eram fortemente taxados com imposto alfandegários, e não estavam autorizados a ser fabricados no País. Nas principais Cidades, e junto das portarias dos edifícios Públicos e Privados com muitos empregados, havia pessoas que se “dedicavam” à venda dos chamados artigos de contrabando, actividade que para muita gente se rodeava de uma certa suspeição, tendo em conta a forma empenhada como o Estado controlava a vida no País, e nos sacos que escondiam as ofertas lá estavam quase sempre os baralhos de cartas fabricados no Estrangeiro. Em casa de meus Avós e meus Pais, sempre se passaram longos serões com jogos ou paciências com cartas, e quando fui a primeira vez a Sevilha não pude deixar de comprar um bom baralho para trazer de presente ao meu Avô, e quando pude, repeti essa compra sempre no mesmo local, na Calle Sierpes,

embora a partir dos anos da livre circulação de mercadorias o meu local de culto transferiu-se de corpo e alma para a célebre Pastelaria que lhe fica mesmo ao lado.

segunda-feira, julho 18, 2011

Um contributo para o reconhecimento da importância da Mulher no contexto Europeu.

domingo, julho 17, 2011

Medir Stress


Vivemos cercados por aparelhos de medida, alguns deles que nos são úteis e indispensáveis para usar em certos momentos, mas muitos deles estão cada vez mais a tornarem-se totalitários. Cada dia que passa, mais acredito na teoria de acelaração da Terra, e tenho a sensação de vivermos rodeados por uma epidemia de stress. Ainda não há medidómetro para o stress humano, mas entretanto fomos invadidos por uma campanha publicitária promovendo o “invento” de uma máquina que avalia o stress dos Bancos Europeus. Ganhámos a confiança nos aprelhos de medida, porque resultam da investigação e experimentação do conhecimento aportado pelas ciências exactas, mas já quanto à fiabilidade das análises financeiras realizadas pela máquina mais susceptível e volúvel que existe à superfície da Terra, louvo-me na opinião de dezenas de Prémios Nobel da Economia, que todos os dias questionam as conclusões cerebrais dos mais diversos Agentes inventores de factos encomendados pelos seus Patrões. Como diz o Pôvo, albarda-se o burro, à vontade do dono. Ontem, estiveram 30º à minha roda, mas na grande Montanha Europeia, ignorada pelos parques de diversão, as carruagens pejadas de Comissários engravatados continuam a fazer loopings nos carris de aço, em brasa.!

sábado, julho 16, 2011


Para se ler antes de uma merecida visita.

Um dos Menires do Lavajo


Ainda não sabemos, e talvez nunca o viremos a saber, como se processava a comunicação oral entre as populações do Sudoeste da Península desde o neolítico até cerca da era Cristã. Do ponto de vista conceptual, acredito que o nascimento do substantivo Monumento pode ter ocorrido no começo da criação dos grandes complexos funerários do neolítico final, que acolhiam os rituais da morte. Temos já conhecidos no nosso território, uma imensidão de importantes Monumentos Funerários com alguns Milénios de existência, que nos transportam para a necessidade de reflexões, discussões e decisões sobre as práticas de conservação de um Património Monumental incompreendido pela maioria dos Portugueses, com a sua protecção e investigação potencialmente agravadas em tempos de crise financeira. Muitos desses Monumentos são parcialmente mudos, não apenas por não serem capazes de nos alertar para a sua violação ou para pequenos maus tratos, mas também porque encerram conceitos e fundamentos difíceis de compreender. Não vejo diferença entre a salvaguarda da Torre de Belém e de um Menir, pois ambos estes Monumentos são parte assumida do Património, da “paisagem”, e da memória do País e da Humanidade há já centenas de anos, embora por agora só um deles tenha peso específico/financeiro avaliado pelo número de bilhetes vendidos para o visitar. Mas, o futuro dos Portugueses depende entre outras coisas da alteração progressiva do paradigma cultural que o analfabetismo tardiamente erradicado retardou. Um dos principais ónus que um conjunto arqueológico que não caiba numa vitrine, carrega consigo, é a dificuldade de interpretação imediata, mesmo depois dos cientistas terem efectuado os trabalhos de base, e por isso surgiram modernamente alguns chamados centros de acolhimento e intrepretação, cuja sustentabilidade vai ser cada vez mais difícil, mas que são vitais para a descodificação, por exemplo, do expressionismo plástico dos seus criadores, que oscila entre o simbolismo mágico/religioso e a arte esquemática mais pura. Cada vez concordo mais com Pablo Picasso, quando ele dizia que “a inspiração existe, mas ela tem de nos encontrar a trabalhar”, e por isso os curadores e artífices do Património vão ter de superar as dificuldades que se adivinham, continuando a trabalhar devotadamente para que lhes toque a inspiração capaz de tornar cada vez mais apetecível a todos os públicos ir ao encontro dos resultado das suas investigações, para os poderem apreciar e compreender. Pertence à Pessoa certa e tem sede própria, a explicação das circunstâncias que rodearam a descoberta do Menir envolvido nesta imagem, que está felizmente “protegido” de agressões fáceis, mas quero a propósito confidenciar o meu sentimento, ou opinião, de que os artistas do neolítico, foram tocados pela mesma inspiração que agitava Picasso, e exprimiam-se utilizando o vocabulário mais simbólico encontrado na Natureza, como os círculos dos seios das Mulheres e os triângulos invertidos das suas vulvas. E se Picasso tem hoje, expostas e bem guardadas em Museus, tantas inspirações difíceis de entender, deslocadas dos ambientes em que foram imaginadas e produzidas, os “nossos” Monumentos Arqueológicos merecem pela mesma génese criativa ser igualmente bem conservados e observados por milhões de olhos, com a vantagem de muitos deles se terem mantido na atmosfera dos ateliers onde foram criados. Para isso, fica aqui um modesto contributo.

Imagens de rua


Um banco, uma história, muitas histórias por contar. Bancos, de isto e daquilo, deste e daquele, mas também agasalho de epitáfios discretos que oferecem sombra e sopros de vitalidade a folhas multicolores caídas das nuvens do esquecimento.

sexta-feira, julho 15, 2011

Escutas ilegais no Reino


Desconheço quem são as entidades que vão investigar a dimensão do escândalo das escutas ilegais em Inglaterra. Ainda por cima, quando um dos principais responsaveis foi recente colaborador do actual PM do Governo Conservador e tanto quanto se sabe as escutas envolveram o anterior PM Trabalhista pelo menos no que respeitou à ficha clínica de um seus filhos. Todos sabemos pela boca do ainda PGR, que há escutas ilegais em Portugal. Muitas destas escutas, feitas por Polícias e Magistrados, tiveram visibilidade pública através dos diversos sucedâneos Murdocquianos Portugueses, e envolveram o ex PM e os alguns dos seus Amigos mais próximos. Nunca nada foi investigado, e portanto ninguém foi nem será punido. Não existe Estado Democrático sem Imprensa livre, mas Liberdade não pode significar impunidade para os infractores da Lei. Vamos esperar que a mais velha Democracia do Mundo apresente os resultados desta investigação, que já está a ser alargada aos EUA, para encontrarmos as sedes adequadas para apresentar exigências aos Poderes Judiciais, quiçá Europeus, para que os criminosos escutadores Portugueses que desenvolveram actividade para todos os fins escuros, sejam exemplarmente punidos, incluindo neste rol os delitos económicos que se relevam no montante do défice do PIB.

Imagens de rua


Para mim, a questão maior da fotografia em geral, é a inquietação na procura de respostas para a forma de reduzir as três dimensões da profundidade da côr à limitação de um único plano de observação.

quinta-feira, julho 14, 2011

A pesca do polvo em Tavira

Hoje, depois da praia, passei pelas barracas dos pescadores de Santa Luzia para continuar a minha aprendizagem sobre as artes da pesca. Durante cerca de uma hora, estive a observar o Sr João Romeira preparando as boias bandeira para a pesca do polvo, apetrechos indispensáveis para a sinalização do local de largada das armadilhas, e que estão sujeitas a multas por parte da Polícia Marítima caso não sejam cumpridos todos os requesitos legais. 

A PM patrulha a costa de noite, com a sua vedeta de vigilância, fotografa as boias e caso não estejam conformes, envia a multa para casa do mestre do barco; nada mais simples, e com a informação das coordenadas da localização registadas por GPS, instrumento também utilizado pelos pescadores para não errarem o local onde largam as armadilhas para atrair os polvos e poderem proceder outro dia ao esprender das teias sem perda de tempo. Noutros tempos, a referência eram as casas costeiras, os cerros e a distância da costa, tudo medido com o olho da experiência, e sem as limitações das 6 milhas de hoje, que alguns arriscam não cumprir, pois o mar é imenso, e o rastreio da vigilância é limitado a algumas áreas de cada vez. Nas armadilhas de rede de plástico e estrutura metálica, os polvos se entrarem, já não conseguem sair, enquanto que nos velhos alcatruzes de barro e nos modernos de plástico que lhes herdaram o substantivo, a abertura continua livre, mas os polvos sentem-se protegidos dos ataques dos seus predadores marinhos e por isso podem ser içados para os barcos sem que haja perigo de se perder a captura. Cada bandeira, fica ligada a uma teia de entre quinhentas e mil armadilhas.

Para fazer uma boia bandeira, é preciso em primeiro lugar, um pau forte com um peso fixo numa das pontas, que pode ser em argamassa de cimento ou um tijolo atado com cordas. Depois fixa-se a boia de perfil paralelepipédico feita com esferovite, mais ou menos próximo da ponta quanto determina a sensibilidade experiente do artesão para a sua futura estabilidade na água, e finalmente na extremidade livre a bandeira é atada em Portugal, e agrafada pelos Espanhois. A boia, a cuja construção assisti, ficou composta por três pedaços de esferovite, tendo o pescador/artesão rasgado um sulco na peça central para fixar o pau, e procedido a uma amarração que me lembrou a técnica de fazer atilhos de várias voltas em embrulhos pesados.

Na bandeira e nas quatro faces da boia, são pintados o número do registo da embarcação, as iniciais do nome do barco e a inicial da respectiva Capitania. As bandeiras são feitas com quadrados de plástico ou tecidos impermiáveis. Quando, no meio da conversa fiquei a saber o nome do barco a que se destinavam as bandeiras que assisti a preparar, realizei que já o tinha fotografado na doca seca e no cais de acostagem.
Descodificando as iniciais desta bandeira – T (Tavira) 62 (nº do barco) C (Capitania) ; S (Sãozinha) 62 M (Machado)


Cada barco que parte para a pesca do polvo, leva já preparadas e bem amarradas no prolongamento da amurada várias bóias bandeira, que mais parecem  lanças em posição ataque.


Abstração Alfanumérica

quarta-feira, julho 13, 2011

A intimidade com as objectivas


Quem não tenha vivido no tempo das câmaras “convencionais” digitais não seria capaz de imaginar que ia ser possível alterar, logo à partida, as tonalidades dos horizontes sem ser necessário interpor filtros entre os feixes de luz e as objectivas. E, ainda por cima podemos ir fazendo sucessivos disparos com a conjugação manual de todas as combinações entre valores de diafragama e de velocidades, apreciar o resultado de imediato, apagar dos cartões de memória os resultados indesejados, e recomeçar até ao limite do nosso tempo disponível. É claro que como diria John Keats, a beleza é verdade, a verdade é beleza, e isso é tudo o que devemos saber sobre o Mundo, mas não me penaliza fazer um pouco de agitação cromática, embora continue sem conseguir fixar a imagem da clorofila.

terça-feira, julho 12, 2011

Sinais


Nas margens do Guadiana, o Homem, foi deixando ao longo dos milénios não só sinais da sua presença habitacional, em muitos casos secularmente continuada, como também indícios dos percursos entre agregados populacionais, fossem estes vizinhos ou respeitassem às longas comunicações entre as principais Cidades da Bética Romana. Embora o Rio aparente oferecer uma barreira defensiva natural, existem pontos em que o seu atravessamento a vau é muito favorável, e aí podem ser descortinados alguns dos marcos edificados durante as épocas préhistórica e histórica, pelos ocupantes que aproveitaram o saber dos mais antigos na escolha das melhores condições naturais de sobrevivência. São caso evidente, as ruínas das paredes de taipa dos Montes dos velhos Moleiros, sobranceiras às ruinas ainda vigorosas das Atalaias arabes/medievais maioritáriamente quadrangulares, de robustas paredes de pedra e desprovidas de portas, práticamente à mesma cota e reservadas dos leitos de cheia.

A Europa para onde vai?

Decidi intitular como Europa uma reflexão que respeita sim ao Continente Europeu.Deixei de perder tempo com a desinformação televisiva Portuguesa, mas achei importante ouvir uma entrevista com o Presidente da CE. Foi tempo completamente perdido. A vulgaridade das respostas com frases feitas, chocavam com as preguntas da jornalista que tiveram mais substância do que as respostas de um tipo que preside a uma “união” entre alguns dos mais antigos Estados do Mundo. O ex marxista leninista da tanga, apresentou-nos um festival de teatro com tiques, pausas, terjeitos e outras artimanhas, cozinhadas e combinadas clara e antecipadamente com a entrevistadora. Esta, levava um mandato claro, arrasar o anterior Governo e promover o actual, sem um grama de pudor. O Zé, velho actor e modelo fotográfico da Guerra do Iraque, a tudo respondeu da mesma forma, deixando a jornalista escapar mesmo sem contraditório, umas mentirolas piedosas sobre a actuação da comissão no ataque à crise financeira de 2008. A dada altura da entrevista, sem que a entrevistadora tivesse estrutura mental para exigir a clarificação das questões, Durão Barroso atingiu o climax da contradição ao afirmar a disposição de subir a comparticipação da União em alguns projectos dos Estados membros de 85% para uns aparentes 95%, e sem que na sua opinião o investimento público tenha impacto no crescimento económico. Este ponto do crescimento ou da sua ausência, para justificar o emprego ou o desemprego, é uma das maiores fragilidades da doutrina neoliberal Europeia, pois é indesmentível que no período em que a economia Espanhola atingiu as maiores taxa de crescimento o desemprego rondava os 20%. A receita é simples para os neoliberais – mais desregulação dos mercados financeiro e de trabalho, mais comércio livre, mais privatizações, atrairão “investimento” estrangeiro (?) para a produção de bens transacionáveis, o que fará crescer o PIB e criará emprego, tudo num cenário macroeconómico desmentido pela experimentação do laboratório Grego, em que, como são ignorantes em relação à microeconomia nunca dizem quais são os sectores de actividade que irão produzir essa riqueza. O estranho dessa magia, é alguém acreditar que os “mercados” a encherem os bolsos com as actuais pressões espectulativas sobre as dívidas soberanas, as bolsas de valores e das matérias primas, trocassem esses “investimentos” por capital de risco na criação de novos empregos. Vamos assistir nos próximos tempos tempos a uma luta desesperada da Direita Europeia contra o tempo, face ao “perigo” da previsível mudança de protagonistas políticos na Alemanha, na Itália e quem sabe em França, e a forma como Portugal vai ser “intervencionado” pela UE depende da evolução do quadro político Europeu, o que é um factor de enorme preocupação.

Expressionismo Abstracto

segunda-feira, julho 11, 2011

Imagens de rua



Presunção e água benta, cada um um toma a que quer!...

domingo, julho 10, 2011

Escassez de Espécies


Um velho pescador de Santa Luzia, o Sr .Manuel Luís, agora só trabalhando já em terra na preparação e reparação das armadilhas para a apanha dos polvos, contou-me hoje entre outras coisas que a ganância e a falta de controle vão acabar por extinguir este magnífico cefalópode. Tudo isto, e é de facto muito, em resposta à minha curiosidade sobre a serventia de dezenas de caranguejos que fotografei enjaulados dentro de água, junto ao passadiço do cais da marina de pesca. Dizia-me ele, que ao contrário do seu tempo de fartas pescarias de polvo, em que para protecção da espécie não traziam nunca os pequenos, e o isco eram bocados de sardinha e de cavala, agora passaram ao isco vivo para atrair todos os tamanhos, e “acabarem com o que ainda há”!

sábado, julho 09, 2011

Expressionismo Abstracto

Eco dos criadores do Belo


Detesto e desconfio de todos os historiadores de arte, peritos e criticos.São um bando de parasitas que se alimentam da arte.O trabalho que fazem é não só inútil como induz em erro. Não conseguem dizer nada que valha a pena ouvir acerca da arte ou do artista, além de mexericos pessoais que às vezes lhes interessam.
MARK ROTHKO – Pintor 1903 -1970

Abstracções


Já deixei aqui dito que não gosto do termo “imagens impressionistas”.
O resultado da expressão do meu sentimento, plasmado no acto final do enquadramento de uma abstracção, vou passar a intitula-lo por expressionismo abstracto.

sexta-feira, julho 08, 2011

Agora é tempo de,

desejar que a luta pela sobrevivência deste adorável melro/a seja coroada de êxito, e quem sabe um dia possa voltar aqui para fazer o seu primeiro ninho.

A VELHINHA PONTE SOBRE O GUADIANA JUNTO A SERPA


Atravessei esta ponte, dezenas de vezes de carro e uma vez a pé, mas se agora ainda tal é possível para um candidato a equilibrista, ainda não estou tentado a fazer essa experiência radical.
 A Ponte, tal como está, ainda é uma imponente estrutura, com corpolentos pilares de secção ovalizada e com golas na parte superior como palmas de muitas mãos, sem indícios de constrangimentos no enrocamento dos sopés implantados no leito do rio, contrastando com o desenho rectilínio dos pilares duplos da moderna ponte rodoviária. Também a linearidade das novas balustradas soldadas a arco eléctrico e pintadas de vermelho, contrastam com as épocas do rebite e dos reforços cruzados que rendilham as barras de ferro descolorido da ponte velha. Pensar nesta velha ponte, recordá-la a quem a conheceu, ou dá-la a conhecer, acabou por ser pretexto para, atravessar pela primeira vez a pé a actual ponte rodoviária, que para além desta função acolhe debaixo do seu tabuleiro inúmeras dezenas de ninhos de andorinha, e depois de gozar os reflexos atmosféricos registar partes dos seus horizontes.
Vale a pena aproveitar os parques de estacionamento existentes em cada margem e em ambos os sentidos, interromper a viagem por alguns minutos e percorrer a pé o passeio largo, marginal à ponte, e disfrutar calmamente do panorama com o maior horizonte sobre o leito natural do Rio Guadiana que se pode imaginar. E, também é uma experiência quase radical, como agora é uso dizer-se, encostar-mos a cintura ao parapeito de ferro e sentir a enorme vibração provocada pela passagem dos automóveis e, mais forte ainda, com as grandes transportadoras de mercadorias.
Apesar de idolatráveis, estes pilares, não têm mesmo qualquer relação metafísica com esta zona do rio, e em particular com alguns ”sítios” não muito distantes, nas duas margens, onde se implantaram há cerca de cinco milénios o “Povoado dos Três Moinhos”, e o “Cerro dos Castelos de S.Brás”, mas as suas formas até podiam ter-se inspirado num qualquer artefacto idiotécnico presente nas cerimónias mágicas e inimagináveis da vida ritual dos seus ocupantes.

Esta ponte, Ferro-Rodoviária e também pedonal, foi a primeira obra de arte a permitir o atravessamento do Rio Guadiana, junto a Serpa, pois antes de ela ter sido construída a passagem entre as margens era assegurada por uma barca, que operava para montante, não muito longe do local de implantação da ponte. Também era possível no Verão atravessar o rio a vau num local conhecido por Porto Beirão, que foi utilizado seguramente pelos exércitos da Bética, pois ainda cheguei a conhecer um pequeno troço da estrada romana lageada que conduzia ao rio nesta zona da margem direita, e que progressivamente os abutres ilegais das areias do rio acabaram por destruir. Das memórias mais recentes, relativas ao transporte de pessoas e bens entre as margens, resta a casa do barqueiro actualizada e ainda bem conservada.
Intencionalmente, ou não, despareceram da ponte com o tempo, as travessas adicionais de madeira que constituiram uma plataforma muito segura colocada ao lado e no meio dos carris do caminho de ferro, e que permitiam a circulação pedonal e rodoviária. Em cada margem, existia junto à linha do comboio, uma casa onde viviam os guardas das passagens de nível, edifícios que estão hoje em ruínas e cujas paredes servem agora de telas para alguns escriturários.
Além de duas amplas e autónomas casas de habitação, cada estrutura tinha anexa uma “guarita” independente, com um banco em pedra e três rasgadas janelas que garantiam a observação e controle da circulação dos comboios no horizonte visual da responsabilidade dos guardas da passagem de nível.
Tem razão o autor desta frase; do TUDO que podia significar, a ponte ainda É de utilidade pública, mas passou a servir para o NADA, e até é perigosa para alguém mais incauto.



A demora na espera pela abertura das cancelas antes e após a passagem dos comboios, era variável em função do sentido que levavam; era o tempo da ausência de automatismos, mas dos controles de seguranças adicionais, complementares às comunicações por voz através dos telefones fixos, garantidos através de um testemunho material que era entregue pelos guardas das passagens de nível aos maquinistas, para ser entregue ao chefe da Estação de Brinches quando o comboio vinha de Beja, e devolvido quando o comboio voltava de Moura.
Era um tempo de uma excepção especial no monopólio das comunicações telefónicas, pelo que a CP tinha a sua própria rede telefónica que lhe garantia autonomia, embora lhe tenha custado instalar toda essa infraestrutura, e de que ainda se podem fazer algumas imagens para museologia futura, de um património que pode ser apropriado, ou salvo, por quem a isso se disponha.
Como a linha tinha um plano ascendente até à estação de Brinches, que fica a cerca de 5 km a norte de Serpa, logo que o comboio partia dali para Beja as cancelas eram fechadas, após um aviso por telefonema feito a partir daquela Estação até aos postos das passagens de nível, para se assegurar que não havia perigo da composição ficar sem freio, e quando o sentido era inverso, tinhamos que aguardar pelo telefonema de aviso da chegada da composição e dos passageiros, todos “sãos e salvos”, e então lá se iniciava a travessia ora num sentido ora noutro, com o carro aos estremeções sentido-se as travessas tentando soltarem-se dos pregos que as agarravam às solipas onde ainda assentam os carris, estes firmemente aparafusados à estrutura metálica da ponte. Formavam-se longas filas de carros quando se aproximavam as horas da passagem dos comboios, mas esse tempo de espera servia para espreitar o rio e esticar as pernas depois de uma viagem que durava perto de 4 horas entre Lisboa e Serpa, num percurso que passava por, Coina, Rio Frio, Marateca, Alcácer do Sal, Torrão, Ferreira do Alentejo e Beja.